14 de setembro de 2013

BD Steampunk - Personagens


Exmos Membros da Câmara de Comércio do Porto No Ano Da Graça De Nosso Senhor 1865


Presidente: Augusto Rubicão

Tem 56 anos e uma vasta fortuna, usa um bigode farto e é um homem “corpulento”.
É proprietário de uma série de vinhas no Douro, caves no Porto, uma linha de dirigíveis que ligam todo o país, uma frota de navios que atravessam o Atlântico e é dono da primeira companhia de Telekinematographia (televisão à la século XIX) em Portugal.

É o tipo de líder que dá ordens sem se preocupar com detalhes como, por exemplo, se estas são exequíveis ou não. Assume que é melhor homem de negócios do que realmente é, mas na verdade, o seu império existe parte por sorte, e parte por ele ter jeito para escolher representantes competentes e honestos em cada uma das suas empresas. Na realidade já perdeu mais dinheiro do que aquele que ganhou, mas a fortuna que herdou é tão grande que nem chega a dar por isso.
No entanto tem que se admitir que a sua personalidade é magnética, acabando por arrastar outros consigo, mesmo que os seus projectos sejam rebuscados e irrealizáveis.
É daquelas pessoas que, quando lhes chamam a atenção para falar mais baixo, olham para quem lhes diz isso e respondem “mas eu já estava a falar baixo”. Já estão a ver o tipo de pessoa, certo?



 Persona Non-Grata Oficial: Conde Firmino Vilela


É o grande rival de Rubicão, e o posto de “Persona Non-Grata Oficial” foi criado pelo presidente especialmente para ele após uma discussão acalorada sobre qual seria o futuro da indústria pecuária no Ribatejo se as touradas fossem abolidas.
Ele, incrivelmente, aceitou com uma certa dose de orgulho e agora usa isso para irritar toda a gente sempre que pode, argumentando que é um dos privilégios do posto.
A sua oposição a Rubicão, no entanto, raramente é mais razoável que os planos do presidente. O conde Firmino é daquelas pessoas que discorda por discordar. Se alguém disser que céu é azul, ele irá imediatamente dizer que sempre o considerou de uma tonalidade mais vermelha clara ou assim. (O seu argumento contra as touradas, por exemplo, era que elas faziam dos touros mais fortes e, se não fossem acabadas a tempo, estes acabariam por desenvolver inteligência ao fim de algumas décadas, organizando-se depois em grupos terroristas o que levaria inevitavelmente a um golpe de estado taurino.)
Veste a tradicional roupa de vilão, incluindo a longa gabardine negra, o chapéu alto e o bigode fino e negro que, sim, torce sempre que se sente em posição de superioridade. Infelizmente como é baixo e magro a roupa assenta-lhe mal. A gabardine, por exemplo, pode ser frequentemente vista a “varrer o chão”.
Pior que isso, ele tem um grande segredo!
O Conde Vilela, para sua grande vergonha, é um homem terrivelmente moral, um coração de manteiga que, mesmo contrafeito, não resiste a ajudar os mais necessitados. De facto,
grande parte dos orfanatos, lares para depauperados ou clinicas gratuitas para senhoras da noite no Porto são financiadas pelos seus negócios. Mas como considera isso mau para a sua imagem de homem de negócios frio, faz isso sempre de forma anónima. Uma espécie de lavagem de dinheiro às avessas.


Tesoureiro: António Silva


António Silva é uma daquelas pessoas a quem a única coisa que falta para ser invisível é deixar de ter um corpo opaco. De resto todas as outras características estão lá, ninguém repara nele, ninguém espera que ele intervenha em discussões, e quase ninguém sabe que ele existe a menos que algo corra mal. Sempre foi assim desde que se lembra.
Como consequência dessa sua falta de visibilidade natural tem tendência a tentar aproximar-se de pessoas mais notáveis que ele, para tentar compensar. Não resulta. Assim, uma vez dentro da Câmara do Comércio, tornou-se num dos mais fervorosos apoiantes de Rubicão, independentemente da sanidade do projecto em causa. Rubicão, por seu lado, como gosta que concordem com ele, acabou por reparar em António o tempo suficiente para o elevar a uma posição relativamente proeminente. Não que lhe preste atenção, note-se, a menos que precise do homem para o apoiar ou, em alternativa, de um bode expiatório, mas sempre é mais um voto.
António Silva é membro da Câmara de Comércio porque lhe foi deixada em herança uma pequena fábrica de lápis, borrachas e pioneses por um tio afastado. Quando a recebeu não queria seguir o ramo, de facto preferiria ter sido actor, mas como ninguém lhe prestou atenção acabou enfiado nele até ao nariz. 

Rui Leite - textos
Rui Alex - imagens